quinta-feira, 13 de março de 2014

Walter Benjamin: Rosto Negro

Quando te peguei no caixão,
foi em mim que segurei.
Uma árvore com o teu nome
foi chorando o que eu gravei.

Cada grão de pó sobre ti
é peso que carrego,
mas tal fardo de amor,
a levá-lo não me nego.

Tenho o rosto negro
de tanto chorar

Cada passo para a cova
é de amarga armonia.
Entre tudo o que deixaste
está uma cadeira vazia.

É de noite que os meus ossos
são trespassados pela dor.
Quando chamei não respondeste
quem escutará o meu clamor?

Tenho o rosto negro
de tanto chorar

Tenho o rosto negro
de tanto chorar

Lançaste o trigo sobre o mar
e da colheira sou eu filho.
Agora que o sol se curva
o horizonte é o meu trilho.

O teu sangue nunca será
coberto pelo pó,
nem sepultura haverá
onde enterrar o meu grito.

O teu sangue nunca será
coberto pelo pó,
nem sepultura haverá
onde enterrar o meu grito.

Tenho o rosto negro
de tanto chorar

Tenho o rosto negro
de tanto chorar

--
Jónatas Pires

 

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